Tem gente que gosta muito de uma sonequinha logo depois do almoço, aquele cochilinho especial que revigora o corpo e satisfaz uma necessidade vital. Esse cochilinho com o tempo passa a ser até uma certa dependência, se não tiver uma soneca as atividades da tarde ficam comprometidas, corpo mole, preguiça, moleza total.
Muito bem, essa condição de sonequeiro (os adeptos da soneca de meio dia), às vezes deixa a pessoa em maus lençóis, sem iniciativa, sem ação, concordando com tudo no vai e vem do pescoço, naquilo que o matuto chama de pescada... veja só esse exemplo:
Conheço um rapaz, ou melhor, não só conheço, como também somos parentes bem perto, o que torna esse relato mais passível da verdade. Ele é um cidadão da testa grande, caneludo, tem a venta cumprida, bucho avantajado, um perfeito atleta da terceira idade, mas..., isso não importa, o que importa mesmo é que o homem é saudável, tem inteligência à frente de muitos, bom pai, bom filho, bom amigo e já se sustenta sozinho.
Muito bem, estou falando do Raimundo, é ele mesmo o “Mundico” como gosta de ser chamado pelos amigos. Esse cidadão, bom trabalhador, gosta desse abençoado cochilo de meio dia, aliás, gostar mesmo ele não gosta não, mas ele é dorme assim mesmo sem gostar. Diariamente ele cochila em média, de uma hora da tarde até as cinco e meia. É isso mesmo!!! As vezes essa média varia entre cinco, cinco e dez, cinco e meia, esse é o padrão. Depois disso o homem ta novinho em folha pronto pra comer um sandubinha X tudo, dar uma descansadinha, depois uma voltinha do parquinho do bairro, coisas desse gênero.
Pois bem, já esclarecido essa rotina de Mundico, veja bem o que aconteceu com o coitado numa viagem a passeio para o Maranhão, visitando familiares, os quais ele preza muito, de maneira até admirável. Numa dessas visitas, Mundico, foi até um velho amigo, gente do coração, conterrâneo, pessoa de alta estima. A visita muito boa, recepção de primeira, pessoal alegre, crianças felizes brincando por perto, animais nos arredores, sombra boa, bom papo,... enfim, tudo fazia jus ao momento de alegria. Na hora do “rango”, aquele banquete!! Fava, galinha caipira, saladas, feijão, arroz, cuchá, etc. etc... muitas coisas que fazem parte do cardápio da farta cozinha sertaneja.
Nesse dia Mundico tinha levantado as cinco da madruga pra fazer umas caminhadas, exercícios, essas coisas de quem já ta reberando a casa dos quarentão. No anseio de ir logo visitar o amigo, não tomou o café da manhã, um groladinho com ovo caipira, bem feito, preparado pelo seu avô; cuidou logo de encaminhar a visita. Quando deu meio dia e meia, a hora que o almoço saiu esse “caba” tava com fome, tava varado, brocado, a barriga topando no espinhaço de fome. O cardápio que já era apetitoso aumentou ainda mais no olhar desse “minino” faminto. Mundico entrou nesse almoço com vontade!!, as primeiras colheradas não dava tempo de mastigar direito e o homi quase se engasga, a comida quente, tinha acabado de sair do fogo, ficava fumaçando na sua boca, mas o rojão continuou até a terceira pratada. Ufa que alívio!!!, Depois uma sobremesa leve, só um docinho de leite, uma talhadinha de melancia, uns gominhos de laranja, um pedacinho de pudim e pronto. Pra arrematar, uma copada de água gelada, num copão de alumínio, que vinha cinzento!!!
Terminado essa etapa, todo mundo muito satisfeito, bucho saciado, a conversa já não era tão constante entre os presentes. Aos poucos os presentes Iam saindo de fininho, um a um, com palitinho nos dentes, desconversando, dando uma desculpinha, tal, tal.... de repente estavam só os dois, Mundico e seu anfitrião, sentados frente a frente numa tentativa de manter a conversa. O anfitrião puxava assunto, tentava contar piada, lembrava de fatos da família, tentou cantar uma música que lembrava o passado, tentou até dar uma dançadinha... e nada, Mundico não reagia. Nessas alturas, ele só confirmava com a cabeça, ou então, respondendo: é, é, pois é.... e de vez em quando dava aquele sorrisinho sem graça, forçado.
Mundico tava numa situação difícil. O horário do velho cochilo de todos os dias, o bucho tava estralando de cheio, um ventinho prazeroso corria naquele momento, galinha cantando no terreiro, tudo muito convidativo para puxar a velha “paia” numa redinha, pelo menos por umas duas horas; pois tinha que fazer uma exceção naquele dia, já que estava em visita. Mas nada, nem uma promessa de rede, nem um sinal, as pestanas pesava cada uma uns dois quilos, puxando pra baixo, uma coceira sem fim nos olhos, botava e tirava os óculos escuro, momentinho que aproveitava pra “pescar”... nem mesmo com tudo isso, sensibilizou o anfitrião a oferecer uma redinha para o coitado.
Eis que depois de uns quarenta e cinto minutos o anfitrião se levantou, meio apressado, um pouco desconcertado, dizendo: Opa meu amigo, eu estava esquecendo, como não lembrei antes!!! Que falha a minha... Aguarda só um mais um pouco ai Mundco que tenho ali um “negoço” bom pra você. O Mundico, abriu a boca, deu aquela bocejada, de quem parece está com três dias sem dormir, e pensou logo: até que enfim, eu já não tava mais agüentando de sono. E ficou ali mais uns cinco minutinhos, quase dormindo, mas feliz pela atitude do amigo, mesmo que atrasada.
Quando de repente o amigo entra na sala com um litro de cachaça na mão, um violão com as cordas enferrujadas e desafinado, dizendo vamo ali pra debaixo do pé de manga, a sombra ta boa, quero ouvir você tocar pra nós.... kkkkkkk agora pense na reação, na animação do Mundico pra essa missão.
Esse costume de soneca é muito bom, mas as vezes nos deixa meio desajeitado....
quarta-feira, 2 de junho de 2010
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